Antes de saber os sintomas da fenda palatina, entenda o que é isso

A fenda palatina é uma malformação congênita que ocorre durante a gestação, resultando em uma abertura no palato — o céu da boca do bebê.

Isso acontece quando as estruturas que formam o palato não se unem completamente durante o desenvolvimento do feto. Os sintomas da fenda palatina variam em tamanho e gravidade, podendo ser:

  • fenda palatina isolada: abertura apenas no céu da boca, sem afetar o lábio;

  • lábio leporino fenda apenas no lábio superior;

  • fenda palatina com lábio leporino: fenda que envolve tanto o lábio superior quanto o céu da boca.

Segundo o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da Universidade de São Paulo (USP), 1 em cada 650 bebês nasce com palato fendido no Brasil. 

Nos primeiros anos de vida, a fenda palatina pode afetar principalmente a alimentação e respiração do bebê. Com o crescimento, se não tratada corretamente, pode afetar outros aspectos da vida da criança, como a fala e socialização.

Embora possa causar preocupação, essa condição é tratável, e o diagnóstico precoce pode aumentar significativamente as chances de um desenvolvimento saudável.

Mas, o que causa fenda palatina em bebês?

As causas exatas da fenda palatina não são totalmente conhecidas, mas combinam fatores genéticos e ambientais, como:

  • histórico familiar: pais com fenda palatina ou lábio leporino aumentam as chances do bebê ter a condição;

  • genética: mutações genéticas, como as relacionados ao crescimento craniofacial, adesão celular, e metabolismo do ácido fólico, podem aumentar a predisposição;

  • uso de medicamentos: segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), OMS (Organização Mundial de Saúde) e a Food and Drug Administration (FDA — reguladora de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos), alguns medicamentos como ondansetrona, antivirais, anticonvulsivantes e ácido retinóico administrados durante a gravidez elevam o risco;

  • deficiência de ácido fólico: baixos níveis desse nutriente na gravidez podem estar ligados à condição;

  • substâncias prejudiciais: o consumo de álcool ou drogas durante a gestação aumenta as chances;

  • tabagismo: fumar na gravidez é um fator de risco importante;

  • diabetes gestacional: se não controlada, pode elevar o risco de malformações;

  • infecções: certas infecções durante a gravidez podem prejudicar o desenvolvimento do bebê.

Além da fissura anormal no lábio e no céu da boca, quais outros sinais para ficar alerta?

A fissura labial  e no céu da boca são sintomas da fenda palatina que são visíveis e, portanto, mais fáceis de identificar, mas outros sinais podem aparecer. Ficar de olho pode ajudar na identificação e tratamento precoce.

1. Voz anasalada devido ao ar que sai pelo nariz

Um dos sinais mais característicos é a voz anasalada. Isso acontece porque há uma passagem de ar pelo nariz ao falar. Isso é mais evidente em sons como:

  • M: o som de "mamãe" soa diferente;

  • N: palavras como "não" e "ninho" ficam distorcidas;

  • NG: termos como "manga" podem parecer abafados.

Isso acontece porque a fenda na boca pode impedir que o palato (céu da boca) separe corretamente as cavidades nasal e oral, causando essa ressonância. Outros sinais que você pode observar:

  • som vindo mais do nariz que da boca;

  • voz abafada ou rouca;

  • dificuldade em pronunciar certas palavras;

  • diminuição da intensidade vocal.

A criança também pode demorar mais para balbuciar e usar menos consoantes nessa fase. O desenvolvimento das primeiras palavras e a aprendizagem de novas podem ser mais lentos e, com o tempo, dificuldades de pronúncia e atrasos na fala podem aparecer.

Se suspeitar da condição, um teste simples é pedir para a criança falar com o nariz tapado. Se os sons melhorarem, a fenda palatina pode estar afetando a voz.

2. Dificuldade para se alimentar

Um dos primeiros sintomas da fenda palatina é a dificuldade de alimentação, especialmente em recém-nascidos. A abertura no céu da boca impede a criação do vácuo necessário para sugar o peito ou a mamadeira.

Além disso, o bebê pode ter problemas para engolir, fazendo com que alimentos e líquidos entrem no nariz, prejudicando a nutrição e levando ao baixo ganho de peso. O esforço extra para mamar também faz com que ele engula o ar, ficando mais cansado.

3. Infecções de ouvido

As infecções de ouvido também são sintomas da fenda palatina comuns em crianças devido à alteração na cavidade oral e na posição da tuba auditiva, o que dificulta a drenagem do ouvido médio.

Identificá-las pode ser complicado, especialmente em bebês e crianças pequenas que não conseguem expressar o que sentem. Tenha atenção a sinais como:

  • puxar ou esfregar o ouvido: pode indicar desconforto ou dor;

  • choro inconsolável: um choro persistente pode ser um sinal de dor auditiva;

  • dificuldade para dormir: a dor de ouvido pode piorar quando a criança está deitada;

  • febre: muitas vezes, a infecção de ouvido vem acompanhada de febre;

  • líquido saindo do ouvido: pode ser um sinal de uma infecção avançada.

4. Prejuízo na fala e comunicação

As crianças com fenda palatina podem ter dificuldade em formar sons como "p", "b", "t" e "d", já que esses sons exigem pressão na boca, e a fenda dificulta isso. 

Com uma fala menos compreensível, elas podem enfrentar desafios para se comunicar de forma clara, impactando suas interações sociais e desenvolvimento emocional. 

Essa dificuldade em se expressar pode levar à frustração e ao isolamento, ressaltando a importância de intervenções precoces e suporte adequado.

5. Alterações no nascimento e crescimento dos dentes

Também existe uma relação entre a fenda palatina e os dentes de seu filho. Pode-se notar algumas diferenças no desenvolvimento dentário que indicam a condição:

  • ectopia dentária: dentes nascem em locais fora da posição normal;

  • dentes supranumerários: aparecimento de dentes “a mais”, ou seja, além da quantidade de uma arcada comum;

  • erupção tardia dos dentes: demora mais do que o habitual para que os dentes comecem a aparecer.

Além disso, é comum ocorrer:

  • alinhamento inadequado entre os dentes superiores e inferiores;

  • a troca de dentição acontece mais cedo do que o esperado;

  • alguns dentes podem ter formas irregulares ou tamanhos anormais.

A fenda palatina tem cura?

Para quem está se perguntando se a fenda palatina tem cura, a resposta é sim! A correção geralmente requer um processo cirúrgico, realizado por uma equipe de profissionais especializados.

Por isso, consultar um ortodontista logo nos primeiros sinais de alterações dentárias pode fazer uma grande diferença no bem-estar e na confiança da criança.

Como é feita a cirurgia de fenda palatina?

O ideal é que a cirurgia de reparo da fenda palatina ocorra antes dos 18 meses, podendo ser feita a partir dos 6 meses, se necessário. Realizada sob anestesia geral, o cirurgião une os tecidos do palato e os fecha com suturas absorvíveis. Após a cirurgia, a criança fica em observação no hospital para garantir uma boa recuperação.

No pós-operatório as principais instruções são:

  • não usar chupetas e copos com bico durante a recuperação;

  • impedir que a criança toque na área cirurgicamente reparada;

  • consumir alimentos moles, como cremes, iogurtes e purês durante a primeira semana após a cirurgia;

  • não comer alimentos duros por seis semanas.

Em médio e longo prazo, o bebê também precisará de acompanhamento médico regular e de cuidados especiais, como: 

  • consultas de retorno para acompanhar a cicatrização;

  • terapia fonoaudiológica para ajudar na fala;

  • reforço nutricional, caso a criança precise de uma dieta específica;

  • apoio educacional para o desenvolvimento escolar.

Em alguns casos, cirurgias adicionais podem ser necessárias para ajustar a fenda. Se você suspeita que seu bebê possa ter essa condição, procure ajuda médica. Um dentista experiente pode fazer uma avaliação precisa e recomendar o melhor tratamento da fenda palatina.

Este artigo tem como objetivo informar e difundir o conhecimento sobre tópicos gerais de saúde bucal. Esse conteúdo não deve substituir a orientação, o diagnóstico nem o tratamento profissional. Sempre procure a orientação do seu dentista ou de outro especialista para quaisquer dúvidas que você possa ter com relação à sua condição médica ou ao seu tratamento.